sábado, 27 de dezembro de 2008

Cascata Celeste

Dia quente.
Sol rachante.

Nuvem nem por um instante.
Repentino impensante:
Lá vem ela, navegante.
De longe, no horizonte
Ora bem conveniente.
Ora um tanto irritante.
A cascata abundante
Trilha guia sem volante.
Do alto, vem massacrante.
Precipita ente brilhante.
Trás Seu Raio apavorante.
Figurinha implicante!
Sai dum ponto no distante.
Faz correr o viajante.
Se dissipa, insinuante.
E recomeça inconstante.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Ingênua Vivência

A criança: esperança.
Não pensa em vingança.

Nada, na vida, lhe cansa.
Nem a dança.
A leve dança.


Seu bailado é fluente.

Seu passo é indiferente.
Sua mente, indelinqüente.
Guiada pela corrente.


Uma corrente maldosa.

De história triste, sofrível.
Sua persuasão é nocível.
Sua atração, vaidosa.


E a criança bondosa
Se descontorna, distoa.
Distoa da vida à toa.
E à toa, invade a cidade.

Espalha o medo, o temor.

E por pavor se esconde.

Se esconde da sua dor.

Vinda não sabe de onde.


Talvez se afeto vivesse

De tal forma não sofreria.
Por mais que um dia sofresse
Sua esperança retornaria.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Luz... Reluz

De longínquo a reconheço. Sua áurea é provida de luz. Luz que brilha como os olhos de quem a esconde no peito. Seus sonhos a embalam. Certa está! Deve-se agir com o coração. A razão é somente para aqueles que pensam na conseqüência sem vivenciá-la. Seu sorriso, inominável. Prenda, merece o que desvendá-lo. Desisti. Não quero prenda alguma. Apenas a desejo. Desejo com todo o meu tímido vigor. Não julgues, caro leitor, que a quero com seu amante. Busco-a como um anjo de harmonia insaciável. Serei ditoso enquanto presentiar-me com sua serena presença. E, se por intuito, ausentar-se, eterno grato serei a ventura que me guiou a seu brilho. Quando partires, quererei eu seguir seu promissor rumo, mesmo em lembrança. Viverei em procissão ao encontro teu. Aguardarei o quanto precise. Enquanto espero, lembro-te. Naquela canção, naquela gravura... Estarás ali, próximo a minh’alma. E somente quando voltardes, o nó em minha garganta desatará. Prepara-te para a infindável salva, que encabulada ou não a deixará. Digna de tal, és. Presença sua, é como mergulho em rio de alegres lágrimas. É semelhante a triunfo sofrível, porém saciado. É luz. Luz que clareia minha vida.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Andante Só


Andei só.
Andei só e flagrante.
Flagrante da vida andante.
E andante só eu andei.

Se não por mim
Também por me
De forma tal, viajei.
Só ou não, eu andei.
E andante só me tornei.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vinte e cinco do doze

De casa saio. Ponho-me em becos poluídos pelas poluídas fuligens que de autos e mentes mostraram-se. Exaurido, vejo-me a caminhar com correntes adendas aos membros inferiores. Chama-os de pés. Chamo-os de base. Sem os quais, vivência tal não se faria notar. Entretanto, não ponho a mão, a pena, para apenas criticar os chamamentos populares que alguém um dia quis fazer espalhar mundo afora. Conto um fato!
Com implexa locomoção, julgo causos vividos naquele ano. Fui o que pretendia ser? Não! Nunca encontro resposta positiva para questionamentos do gênero. Certamente, por modéstia demasiada. Ou talvez, por cegueira; pensante cegueira abusiva. Enfim... mesmo sem alcançar devaneios precoces àquele tão longo período de doze meses, não me sinto desgostoso. Antagônico sentimento me habita. Sem causa ou presságio, estou exultante. Dias outros, não estaria de tão notório júbilo. Era um manhã distinta das cotidianas. Não só por singular alegria, mas também por policromia em meio a tão, antes desprovidas de graça, habitações, advirto-me da folia ímpar experimentada pela cidade. É válido proferir que, hora ou outra, tal policromia se transformava em cor única ou em ausência de tom. Porém, em poucos milésimos de segundo, o avivado colorido se fazia visível.
Há um sorriso estampado na face de cada sujeito. Mesmo o adoentado, ou o atraiçoado. O bom dia é próprio de dentro. A saudação vê resposta como nunca antes viu. A ponte recobre os donativos, jamais embolsados pelo dono do lar. Os presentes nunca viram tantos amos. E os amos nunca se viram tão rodeados de presentes. O, temporariamente extinguido, ódio é abruptamente substituído pela onírica ternura. Passagens descrevem o suposto sentimento como hipocrático. Forte verbete, não achas?! Sugiro inverídico. Não trago no peito, expressa fé de que tenhas, em memória audível, um vocábulo tão parnasiano. Também não creio que uma simples mudança de palavra, tenha causado alguma variação semântica avolumada. Apenas suponho causar, ao interlocutor, um apaziguamento incomum. É como proclamar à viúva que o homem resolveu trafegar por montes alvos. Ou, partiu para uma melhor. Se é que, realmente melhor será a morte. De qualquer forma, é conveniente valer-se aqui de eventos tais a fim de ilustrar a conjuntura matinal daquela data: vinte e cinco do doze.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Uma certa menina

Quem é essa que adentra?
Será a briguenta?
Será a grudenta?
Pra onde sua direção se orienta?

Ela não se agüenta.
Pra lá e pra cá se movimenta.
O que será que lhe contenta?
O amor que experimenta?
Ou a vontade que sustenta?

Somente quando ele tenta
É que ela se concentra.
A tal menina briguenta
cede lugar a grudenta.

No final tudo de alenta.
E se não?! Ela inventa.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Projeto Abstrato



Guiado apenas por impulsos provenientes do inexistente, um homem resolve convocar alguns chegados para uma festa iniciar. Não havia o que festejar. Ninguém ganhava uma copa do mundo. Ninguém comemorava mais um verão, se é que esse realmente apresentava algum fundo festivo. O tal homem aponta num papiro ilustrado, o que possui e, com um sorriso inconseqüente, destaca também o que virá ter domínio. Parecia ter sido atiçado por um espírito de loucura e frieza. Infeliz combinação. Seus talvez fiéis amigos o acompanham.
Idealizando uma busca por seus primordiais objetivos, o sujeito se mostra ignorante às regras do jogo que pretende jogar. Soberano, ele deixa seu pseudo-feudo e se mescla a quem compartilha, ou parece compartilhar, de seus ideais. Sempre com mesmo ritual, vai trilhando um tapete vermelho. E procria a angústia no peito de quem observa, de perto ou da lua.
Inabalável e ditoso a pensar no gozo que confia conquistar, avança. Não se sabe até onde vai. Possivelmente, nem mesmo ele conhece seu destino. Apenas enfoca no que parece estar próximo de se concretizar. Mentira! Nunca verá o sucesso. Vê apenas o distinto reforçar-se contra ele. Não consegue notar onde errou. Mas errou. E agora convive até com a intolerância de quem um dia esteve ao seu lado. Um lado, agora, enfraquecido, que desconhece uma saída para a abrupta inversão.
Desesperado, não consegue nem ver o desfecho da reação em cadeia que fatalmente propagou-se. Sua auto morte o impediu. Têm-se agora um cenário irreconhecível e devastado. Por um fortúnio da vida, aquele que um dia, erradamente, o atual futuro pressupôs, não participa da criação das regras do novo jogo a ser jogado. Jogado a partir daquele ano: 1945.
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O sonho expansionista do Adolf Hitler foi um fator marcante para o acontecimento da Segunda Guerra Mundial. Fez diversas alianças e sua vitória parecia ser dada como concretizada a qualquer instante. Mas, uma série de fatos e fatores foi responsável pela inversão da provável conquista. Desacreditado, Hitler se matou em abril de 1945. Nesse mesmo ano acabaria a guerra. A ilusão de Adolf Hitler parecia ter morrido com ele e com milhares de combatentes. O Eixo, grupo formado pela Alemanha de Hitler, juntamente com outras nações, perdeu.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Conto Amargo

Um homem vagava pelas ruas. Viu num simples objeto jogado no chão entre alguns sacos de lixo, uma forma de agradar seu filho. Não era grande. Nem colorido. Mas mesmo assim, confiava que o pequeno iria gostar. Chegando a casa, foi logo mostrar sua descoberta ao garoto. O garoto não quis.
Mesmo sem saber o que havia de errado com o, agora chamado, brinquedo [na verdade era algo novo. Ninguém nunca tinha o visto], o homem resolveu jogá-lo num canteiro. Alguém iria pegá-lo. Ninguém pegou. Após algum tempo, as flores daquele canteiro murcharam. As folhas secaram.
Outro homem passou por ali. Parou. Observou. Resolveu levar o objeto. Quando chegou a seu lar, sua esposa entrou em desespero sem saber nem mesmo porque. Sem delongas, jogou o objeto pela janela e não disse uma só palavra.
O objeto quase acertou uma senhora que passava pela rua. Ela o pegou. Pensou em largá-lo por ali, mas desistiu. Talvez tivesse alguma utilidade. Deixou-o na gaveta, junto a suas roupas. As roupas despedaçaram.
Deu-o então, a seu filho mais velho. Era curioso e criativo. Saberia o que fazer com o objeto. Resolveu fazer outros iguais àquele. Fez. Passou a andar pelas ruas vendendo um objeto de utilidade desconhecida. Poucos compraram. Mas mesmo assim, em pouco tempo aquele simples artefato de forma peculiar se espalhava pela cidade. Sabendo do sucesso financeiro do rapaz que teve a idéia de multiplicá-lo, outras pessoas fizeram o mesmo e também enriqueceram. A cidade se tornou tenebrosa.
Hoje, o objeto pode ser encontrado em diversos pontos do mundo. Ninguém sabe ao certo sua conveniência. O fato é que com algumas cápsulas pontiagudas recheadas de pólvora, pode deixar pessoas feridas. Algumas externamente, outras sentimentalmente. Seu nome? Revólver.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Faces

Abrigo-me na face do sucesso. Esse é meu habitat natural. Mas, em tempos ruins, migro. Não porque quero. Porque necessito. As condições não me deixam ficar. Sou forçado então, a procurar outro sítio para viver. Em certos momentos, não consigo achar tão facilmente. Contento-me com um simples terreno. Tento transformá-lo em um novo habitat. Não é tarefa fácil, admito. Prazeroso sim, quando finalizada.
Vez ou outra, invoco-me com tantas mudanças. Sinto-me um cigano. Não quero isso ser. Não saio. Não ligo para as condições. Sou teimoso também. Busco apenas um novo contorno. Mais tímido ou mais potente. Contorno inerente à ocasião. Às vezes, surjo quando não devo. Sou mal interpretado. Outras vezes, jocoso. Apareço somente para tal. Decepcionado, voluntário: meus diversos semblantes.
Talvez não me conheça. Muito prazer. Sorriso.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Apenas versos...

Não possuo inimigos.
Se os tenho não por mim.
Cultivo apenas amigos.
E não sou tão triste assim.

Vivo e canto como quero.
Desimporta o importante.
Não ligo pra quem não liga
Pra meus fatos tão marcantes.

Solidão não me visita.
Visita-me a insensatez.
Se o errado um dia eu fiz
Me faltou a lucidez.

Ideal

Reflito. Sou ser pensante. Tenho idéias. Boas, ruins. Idéias. Se não só por minhas, mas por idéias de outros também pensantes sou o que sou. Não importa quem sou. Poderia ser melhor ou pior. Porém não teria a mesma história pra contar. História? Que história? A feliz ou a triste? A minha! Não cabe a mim julgá-la. Apenas compartilho os fatos. Compartilho com quem queira. Pois não quero parecer um órfão autobiográfico. De fato, órfão não sou. Se fosse não aceitaria. Seria meio triste. Ou meio feliz. A interpretação é subjetiva. O garoto que apanha da mãe analisa por um ângulo certamente distinto do de um poeta.
[Pausa reflexiva]
Pensando bem, ser órfão não é de todo ruim. Famílias são genuinamente como são. Sendo órfão seria o diferente. Mas e se todos fossemos órfãos? Não haveria mais diferenças entre mim e o outro. Pelo contrário. Seriamos iguais. Quer saber?! Vou ser apenas eu. Diferente ou não do alheio. Afinal de contas, é do desigual que nasce o ideal.