segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Conto Amargo

Um homem vagava pelas ruas. Viu num simples objeto jogado no chão entre alguns sacos de lixo, uma forma de agradar seu filho. Não era grande. Nem colorido. Mas mesmo assim, confiava que o pequeno iria gostar. Chegando a casa, foi logo mostrar sua descoberta ao garoto. O garoto não quis.
Mesmo sem saber o que havia de errado com o, agora chamado, brinquedo [na verdade era algo novo. Ninguém nunca tinha o visto], o homem resolveu jogá-lo num canteiro. Alguém iria pegá-lo. Ninguém pegou. Após algum tempo, as flores daquele canteiro murcharam. As folhas secaram.
Outro homem passou por ali. Parou. Observou. Resolveu levar o objeto. Quando chegou a seu lar, sua esposa entrou em desespero sem saber nem mesmo porque. Sem delongas, jogou o objeto pela janela e não disse uma só palavra.
O objeto quase acertou uma senhora que passava pela rua. Ela o pegou. Pensou em largá-lo por ali, mas desistiu. Talvez tivesse alguma utilidade. Deixou-o na gaveta, junto a suas roupas. As roupas despedaçaram.
Deu-o então, a seu filho mais velho. Era curioso e criativo. Saberia o que fazer com o objeto. Resolveu fazer outros iguais àquele. Fez. Passou a andar pelas ruas vendendo um objeto de utilidade desconhecida. Poucos compraram. Mas mesmo assim, em pouco tempo aquele simples artefato de forma peculiar se espalhava pela cidade. Sabendo do sucesso financeiro do rapaz que teve a idéia de multiplicá-lo, outras pessoas fizeram o mesmo e também enriqueceram. A cidade se tornou tenebrosa.
Hoje, o objeto pode ser encontrado em diversos pontos do mundo. Ninguém sabe ao certo sua conveniência. O fato é que com algumas cápsulas pontiagudas recheadas de pólvora, pode deixar pessoas feridas. Algumas externamente, outras sentimentalmente. Seu nome? Revólver.