terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vinte e cinco do doze

De casa saio. Ponho-me em becos poluídos pelas poluídas fuligens que de autos e mentes mostraram-se. Exaurido, vejo-me a caminhar com correntes adendas aos membros inferiores. Chama-os de pés. Chamo-os de base. Sem os quais, vivência tal não se faria notar. Entretanto, não ponho a mão, a pena, para apenas criticar os chamamentos populares que alguém um dia quis fazer espalhar mundo afora. Conto um fato!
Com implexa locomoção, julgo causos vividos naquele ano. Fui o que pretendia ser? Não! Nunca encontro resposta positiva para questionamentos do gênero. Certamente, por modéstia demasiada. Ou talvez, por cegueira; pensante cegueira abusiva. Enfim... mesmo sem alcançar devaneios precoces àquele tão longo período de doze meses, não me sinto desgostoso. Antagônico sentimento me habita. Sem causa ou presságio, estou exultante. Dias outros, não estaria de tão notório júbilo. Era um manhã distinta das cotidianas. Não só por singular alegria, mas também por policromia em meio a tão, antes desprovidas de graça, habitações, advirto-me da folia ímpar experimentada pela cidade. É válido proferir que, hora ou outra, tal policromia se transformava em cor única ou em ausência de tom. Porém, em poucos milésimos de segundo, o avivado colorido se fazia visível.
Há um sorriso estampado na face de cada sujeito. Mesmo o adoentado, ou o atraiçoado. O bom dia é próprio de dentro. A saudação vê resposta como nunca antes viu. A ponte recobre os donativos, jamais embolsados pelo dono do lar. Os presentes nunca viram tantos amos. E os amos nunca se viram tão rodeados de presentes. O, temporariamente extinguido, ódio é abruptamente substituído pela onírica ternura. Passagens descrevem o suposto sentimento como hipocrático. Forte verbete, não achas?! Sugiro inverídico. Não trago no peito, expressa fé de que tenhas, em memória audível, um vocábulo tão parnasiano. Também não creio que uma simples mudança de palavra, tenha causado alguma variação semântica avolumada. Apenas suponho causar, ao interlocutor, um apaziguamento incomum. É como proclamar à viúva que o homem resolveu trafegar por montes alvos. Ou, partiu para uma melhor. Se é que, realmente melhor será a morte. De qualquer forma, é conveniente valer-se aqui de eventos tais a fim de ilustrar a conjuntura matinal daquela data: vinte e cinco do doze.