Ah! Como são fundamentais os detalhes. É intrigante o fato de tão pouco significar mudanças tão expressivas na vida de infinitos humanos. Certamente, se fosse pela ausência delas, a jornada de um sujeito não se tornaria tão mais amena e ditosa como a daquele de sobrenome Neves. Exatamente aquele que, de todos, ignorava as meticulosidades como ninguém. Sim! Sua vida mudaria pelo que jamais pensou em dar o mínimo de relevância. Sua experiência, notada pela ideologia antiquada, não o fazia autor de seus próprios embaraços. O contexto não se dobrava aos caprichos de cinqüenta ou sessenta anos na trilha de uma de suas personagens.
O periódico soar do despertador sobre a cabeceira de Neves era análogo ao abrupto interromper de uma vida paralela à terrena. Era essa a descrição de sonho para aquele indivíduo sem esposa, sem filhos. Via como amigos, os senhores que sentavam ao seu lado nas reuniões matinais, mas daqueles apenas a inveja pairava por sobre a figura do chefe que, ingênuo, sentia-se rodeado de confidentes. Errônea interpretação: eram eles, apenas aspirantes à promoção empresarial. Homens capazes de qualquer loucura por um escritório mais amplo e alguns vinténs a mais na fartura.
De pé, conversava com sua imagem espelhada e se tornava o corredor de quarteirões mais recatado do bairro. Sentia orgulho de suas largas e velozes passadas sobre o irregular solo de pedras. Sem dúvida, jamais poderia desperdiçar alguns minutos do longínquo dia, se não alcançasse o cargo mais alto na hierárquica classe de sua firma. Sua corrida ocorria sempre isenta de contratempos e nunca tinha sido interrompida por encontros com certos conhecidos. Pelo menos, nunca antes daquela manhã nublada. Depois de cruzadas algumas quadras, pôs-se à frente de um jovem que faria iniciar em sua vida um carrossel de transformações. O sujeito de nome Pedro planejava tirar de Neves apenas informações sobre a localidade de um medíocre banco local e a respeito das horas tais. Neves perdeu alguns segundos na leitura do relógio, mas recusou explicitar a melhor opção de chegada ao banco. Pensava inutilizar muito tempo na explicação. Ao invés disso, partilhou um sorriso forçado e pôs-se a caminhar, e apenas caminhar, pois naquele dia não estava tão disposto como nos anteriores. A forçada substituição na atividade roubou-lhe certos minutos e ditou um atraso. Este, pouco expressivo, mas não para Neves, que pousou frente ao volante e curvou-se à fé de haverem sumidos os autos que diariamente lotavam e paralisavam as vias principais. Antes do estresse graças às orações em vão, porém, teria ele que argumentar o "Não!" dito ao vizinho Rubens que sempre saia depois de Neves e no dito dia viu partir da garagem o veículo do afortunado empreendedor, sujeitando-se a pedir uma simples carona ao serviço: um percurso que fazia a bordo do incômodo ônibus pego algumas quadras distantes dali. Num rápido balancete, o atrasado Neves havia perdido irremediáveis vinte e cinco minutos; e dos grandes.
Rubens, desapontado pela negação do vizinho, também havia perdido um valioso tempo na breve discussão. Teria então, que se contentar com a amarga espera pelo próximo coletivo, já que assistiu à saída do que costumava adentrar há cinco anos, desde que se mudara para o bairro. Após quinze minutos surgia o ônibus na via. Estava cheio, mas partilhava de algum espaço no corredor. Após cruzar algumas ruas, o veículo pôs-se na principal via do local - a mesma onde se encontrava o automóvel de Neves. Rubens respirava um ar vingativo e acabou torcendo pelo atraso do conhecido. Por azar, um acidente envolvendo três carros transformou o engarrafamento diário em um castigo para quem passava por ali. Decorridos alguns instantes, quando ambos continuavam estáticos em seus veículos, Rubens inquietou-se com as atitudes de um sujeito sentado a sua frente. Começou a arquitetar um hipotético assalto e, não quis presenciar a concretização de suas pré-vivências. Longe ainda de seu ponto de descida, acabou saltando do ônibus que mais tarde seria realmente cenário de um assalto praticado pelo rapaz suspeito, juntamente com seus comparsas que aguardavam mais a frente, em uma das esquinas seguintes. O assalto ocorreria de maneira tranqüila somente se a incerteza de Rubens não o fizesse alertar militares de serviço próximo ao ponto em que havia descido. De fato, havia ele premeditado o assalto. Percebendo a aproximação de viaturas ao coletivo já assaltado, a corja resolveu arriscar uma fuga, descendo do ônibus e roubando um carro menor e mais rápido. Por ventura, no cruzamento a frente do local onde desceram, havia um auto guiado por uma doce senhora que rapidamente desceu do veículo deixando-o com os fugitivos. Márcia era seu nome. Ela já passava dos cinqüenta anos e, viúva desde os quarenta e oito, não se relacionava com ninguém desde o tal ano. De fato, era bela e não deixava transparecer a idade a qualquer um que observasse sua enxuta e cuidada silhueta.
Neves, a essa altura, já se mostrava completamente irritado por seu atraso a uma reunião importante em que teria que comparecer naquela manhã. O senhor atribuía a impontualidade ao jovem que havia lhe indagado sobre o maldito banco e ao vizinho que justo naquela manhã pôs-se a pedir uma carona. Neves estava disposto a distanciar-se da principal via, enfiando-se entre ruelas por onde não corria aquele trânsito infernal. E, quando observou uma oportunidade, distanciou-se do caos automotivo buscando contornar o infeliz atraso. Mas, como por uma possível resposta da vida a seus causos pagãos, vitrines humanas o fizeram desviar o olhar atento ao asfalto. Por Deus! Era Márcia, a senhora que por pouco não se vitimou do atropelo de um sujeito apressado. Partia ela em direção a uma delegacia, onde pudesse queixar-se do assalto vivido a poucos, quando, repentinamente, curvou-se ao susto fruto da brusca brecada no carro de Neves. Ele mostrou-se surpreso ao ocorrido e tentava deixar claro que, embora dispersado momentaneamente, jamais antes havia passado pela experiência. O homem tentou enfiá-la no carro para partir em busca de um centro médico, mas teve que contentar-se em apenas levá-la ao posto policial. A essa altura, sua reunião empresarial já não apresentava cunho tão importante quando antes. Tanto que ladeou a mulher em seu procedimento de acusação. E acabou deslocando-se a uma prosa entre seres que mostravam entrosamento tal qual o de íntimos e antigos conhecidos.
Doce destino o que uniu os dois. Sabe-se apenas que há muitos anos haviam se relacionado Neves e Márcia. Entre promessas de civil e festeira união, a desgraça os tornou amantes simplesmente no imaginário amar. Neves viu-se sob a idéia de uma ríspida e forçada viagem. E, na pressão de esquecer o primeiro amor, Márcia assinou um casamento de interesses próprios. Mesmo assim, seu relacionamento mostrou-se longo e a moça cogitou a presença do amar em sua nova relação. Entretanto, por desandos da vida, o novo par veio a falecer, tornando inexistentes os anseios amorosos da tristonha senhora. Márcia prometia desde aquele momento que jamais em sua vida se relacionaria outra vez. Mas o inesperado encontro de sentimentos recíprocos acendeu na vida de ambos a busca pelo companheirismo até seus últimos verões. Ambos eram ali premiados com um novo nascimento e, graças a pequenos detalhes, desfrutariam de um real amor que nunca se apagou.
O periódico soar do despertador sobre a cabeceira de Neves era análogo ao abrupto interromper de uma vida paralela à terrena. Era essa a descrição de sonho para aquele indivíduo sem esposa, sem filhos. Via como amigos, os senhores que sentavam ao seu lado nas reuniões matinais, mas daqueles apenas a inveja pairava por sobre a figura do chefe que, ingênuo, sentia-se rodeado de confidentes. Errônea interpretação: eram eles, apenas aspirantes à promoção empresarial. Homens capazes de qualquer loucura por um escritório mais amplo e alguns vinténs a mais na fartura.
De pé, conversava com sua imagem espelhada e se tornava o corredor de quarteirões mais recatado do bairro. Sentia orgulho de suas largas e velozes passadas sobre o irregular solo de pedras. Sem dúvida, jamais poderia desperdiçar alguns minutos do longínquo dia, se não alcançasse o cargo mais alto na hierárquica classe de sua firma. Sua corrida ocorria sempre isenta de contratempos e nunca tinha sido interrompida por encontros com certos conhecidos. Pelo menos, nunca antes daquela manhã nublada. Depois de cruzadas algumas quadras, pôs-se à frente de um jovem que faria iniciar em sua vida um carrossel de transformações. O sujeito de nome Pedro planejava tirar de Neves apenas informações sobre a localidade de um medíocre banco local e a respeito das horas tais. Neves perdeu alguns segundos na leitura do relógio, mas recusou explicitar a melhor opção de chegada ao banco. Pensava inutilizar muito tempo na explicação. Ao invés disso, partilhou um sorriso forçado e pôs-se a caminhar, e apenas caminhar, pois naquele dia não estava tão disposto como nos anteriores. A forçada substituição na atividade roubou-lhe certos minutos e ditou um atraso. Este, pouco expressivo, mas não para Neves, que pousou frente ao volante e curvou-se à fé de haverem sumidos os autos que diariamente lotavam e paralisavam as vias principais. Antes do estresse graças às orações em vão, porém, teria ele que argumentar o "Não!" dito ao vizinho Rubens que sempre saia depois de Neves e no dito dia viu partir da garagem o veículo do afortunado empreendedor, sujeitando-se a pedir uma simples carona ao serviço: um percurso que fazia a bordo do incômodo ônibus pego algumas quadras distantes dali. Num rápido balancete, o atrasado Neves havia perdido irremediáveis vinte e cinco minutos; e dos grandes.
Rubens, desapontado pela negação do vizinho, também havia perdido um valioso tempo na breve discussão. Teria então, que se contentar com a amarga espera pelo próximo coletivo, já que assistiu à saída do que costumava adentrar há cinco anos, desde que se mudara para o bairro. Após quinze minutos surgia o ônibus na via. Estava cheio, mas partilhava de algum espaço no corredor. Após cruzar algumas ruas, o veículo pôs-se na principal via do local - a mesma onde se encontrava o automóvel de Neves. Rubens respirava um ar vingativo e acabou torcendo pelo atraso do conhecido. Por azar, um acidente envolvendo três carros transformou o engarrafamento diário em um castigo para quem passava por ali. Decorridos alguns instantes, quando ambos continuavam estáticos em seus veículos, Rubens inquietou-se com as atitudes de um sujeito sentado a sua frente. Começou a arquitetar um hipotético assalto e, não quis presenciar a concretização de suas pré-vivências. Longe ainda de seu ponto de descida, acabou saltando do ônibus que mais tarde seria realmente cenário de um assalto praticado pelo rapaz suspeito, juntamente com seus comparsas que aguardavam mais a frente, em uma das esquinas seguintes. O assalto ocorreria de maneira tranqüila somente se a incerteza de Rubens não o fizesse alertar militares de serviço próximo ao ponto em que havia descido. De fato, havia ele premeditado o assalto. Percebendo a aproximação de viaturas ao coletivo já assaltado, a corja resolveu arriscar uma fuga, descendo do ônibus e roubando um carro menor e mais rápido. Por ventura, no cruzamento a frente do local onde desceram, havia um auto guiado por uma doce senhora que rapidamente desceu do veículo deixando-o com os fugitivos. Márcia era seu nome. Ela já passava dos cinqüenta anos e, viúva desde os quarenta e oito, não se relacionava com ninguém desde o tal ano. De fato, era bela e não deixava transparecer a idade a qualquer um que observasse sua enxuta e cuidada silhueta.
Neves, a essa altura, já se mostrava completamente irritado por seu atraso a uma reunião importante em que teria que comparecer naquela manhã. O senhor atribuía a impontualidade ao jovem que havia lhe indagado sobre o maldito banco e ao vizinho que justo naquela manhã pôs-se a pedir uma carona. Neves estava disposto a distanciar-se da principal via, enfiando-se entre ruelas por onde não corria aquele trânsito infernal. E, quando observou uma oportunidade, distanciou-se do caos automotivo buscando contornar o infeliz atraso. Mas, como por uma possível resposta da vida a seus causos pagãos, vitrines humanas o fizeram desviar o olhar atento ao asfalto. Por Deus! Era Márcia, a senhora que por pouco não se vitimou do atropelo de um sujeito apressado. Partia ela em direção a uma delegacia, onde pudesse queixar-se do assalto vivido a poucos, quando, repentinamente, curvou-se ao susto fruto da brusca brecada no carro de Neves. Ele mostrou-se surpreso ao ocorrido e tentava deixar claro que, embora dispersado momentaneamente, jamais antes havia passado pela experiência. O homem tentou enfiá-la no carro para partir em busca de um centro médico, mas teve que contentar-se em apenas levá-la ao posto policial. A essa altura, sua reunião empresarial já não apresentava cunho tão importante quando antes. Tanto que ladeou a mulher em seu procedimento de acusação. E acabou deslocando-se a uma prosa entre seres que mostravam entrosamento tal qual o de íntimos e antigos conhecidos.
Doce destino o que uniu os dois. Sabe-se apenas que há muitos anos haviam se relacionado Neves e Márcia. Entre promessas de civil e festeira união, a desgraça os tornou amantes simplesmente no imaginário amar. Neves viu-se sob a idéia de uma ríspida e forçada viagem. E, na pressão de esquecer o primeiro amor, Márcia assinou um casamento de interesses próprios. Mesmo assim, seu relacionamento mostrou-se longo e a moça cogitou a presença do amar em sua nova relação. Entretanto, por desandos da vida, o novo par veio a falecer, tornando inexistentes os anseios amorosos da tristonha senhora. Márcia prometia desde aquele momento que jamais em sua vida se relacionaria outra vez. Mas o inesperado encontro de sentimentos recíprocos acendeu na vida de ambos a busca pelo companheirismo até seus últimos verões. Ambos eram ali premiados com um novo nascimento e, graças a pequenos detalhes, desfrutariam de um real amor que nunca se apagou.