sábado, 29 de agosto de 2009

Feira de Livros

Quanto custa um de Moraes?
Três sonetos de Hiroshima.
E um Nando Pessoa?
Um litro de lágrimas portuguesas.
Quanto custa um Bandeira?
Mil lirismos libertinos.

Então me vê um Drummond
E chuto as pedras em seu caminho.

HuMorte

Certa vez, o humor do moço
O levou ao bar sombrio.
Bebeu taças.
Bebeu tanto
Que depois caiu no rio.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Olhos Vivos

Vi dois postes
Mendigos
Vi amigos.

Vi calçadas trapaceiras
Povo insano
Malabares.

Vi sinais, pipas, jornais.
Vi donzelas
Sorrisos.
Vi angústias
Três crianças
Brincadeiras
Mesas-bares.
Vi cachaças.
Vi cervejas.

Vi seus olhos
Verde-flora
E dormi
Pra te guardar na retinas
Tão cansadas de te amar.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Refatos

Largue livros
Roupas
Lembranças
Pesos mortos
Enfeites
Relógios.
Não se atrase.
Raro é o tempo.
Ligue aos Sousa
Peça um leito.
Traga apenas as crianças
Os afinos.
Animais.
Não se esqueça da viola
Atrás da estante do bebê.
Ore aos deuses.
Céu.
Olimpo.
Rogue a chance de virada.
Estamos fartos de tais crises.
Olhe apenas a sua frente.
Siga
Corra, meu amor.
Vem ao longe os maquinários
Derrubando posses caras.
Curta é a fila de despejos.
Somos vítimas
Ciganos.
Sigo amando a ti, pequena.
Perdoe-me o desencanto.
Traga pouco
Não inventa
Fuja aos passos da esplanada.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

À Moça

Pálida, à luz ingrata entre cortinas
Sobre um privilegiado leito colorido
Como imagem do primor feminino
Embalada, figurava, por canções de sono.

Sob mantos não decentes
Recatava os seios entre os dedos
Era um anjo! Virgem deusa
Banhada a sonhos palpitantes.

Por ti, seguirei sempre amante.
És retrato da beleza.
Negros olhos, pele lisa.
És meu anseio passional.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Infância

Ah! Minha infância de volta
E os beijos amargos de tia
E os lanches de mãe na lancheira.
Quem dera o ócio perdido em desenhos
Ter o sono cego e aconchegante.
Quem dera amizades de escola
Pernas tombadas ao esporte
E sonhos ingênuos
E metas distantes
E culpas isentas
E mimos...
E doces...
E risos...
Ah! Minha velha infância de volta.

domingo, 16 de agosto de 2009

Autoretrato

Sou parte provável
Retrato do mundo.
Sou nexo escasso
Sambista boêmio.

Sou povo, assembléia
Mistério em comum.
Sou estranho, sozinho
Vivente calado.

Sou planos.
Sou sonhos
Sensato gritante.
Sou louco
Anarquista
Mendigo de idéias.

Sou vida na morte.
Sou repentino
Constante.
Sou delirante
Tradutor do que sou
Paradoxo ambulante.

sábado, 15 de agosto de 2009

Seios

Os seios de fora guardavam atenção.
Homens e filhos de pescoço erguido.
- "São seios tão belos!"
- "São seios tão puros!"
Mas estais enganado.
São seios pincelados
Apalpados.
São seios dourados
Abusados por mãos.
As mãos do pintor que os pôs na tela.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Areal

Sol
brilhante.
Sal
marcante.

Sol marcante
no brilho do
olhar salgado.

Brilho
ausente.
Beijo
ardente.

Beijo ausente
no ardor dos
lábios brilhantes.

Ah! O brilho dos beijos salgados sob o sol.