quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

malsucesso

perdi
os dias, as noites, as horas
esqueci meus olhos sobre seu sorriso
e sorri, e sorri
e perdi
e perdi meus modos
perdi-me humano a seus floreios
julguei amores, tracei futuros
perdi planilhas e partidas e idas e vindas
perdi a mim mesmo
e o seu beijo, seu gosto, seu rosto
perdidos
perdi fotos, relatos
nossos fatos pra trás
perdi lágrimas rosto abaixo
e abatido, moido, despido
perdi a vida que nos mataria de amor

quinta-feira, 10 de junho de 2010

fogo

o fogo que arde à beira dos olhos teus
arde-lhe impassível de tolices descabidas
arde-lhe tomando-a por cólera
arde-lhe
pois em quanto queimar soberano
tratará de lhe impulsionar ao abismo
que é viver aos pés de quem lhe bem faz

segunda-feira, 26 de abril de 2010

fracasso

a sede acumulada é seca
como por um revés de conceitos próprios
ardente, enegrecida
ardem peito, os olhos
ardem miragens desfocadas

a seca toma-me em seus braços
como a ninar-me recém mundano
os lábios enxutos
as pernas cambaleantes
os olhos
dos olhos correm rios
rios de sangue
rios que em mim
trarão o descanso eternizado

terça-feira, 13 de abril de 2010

âmago

penso ao passo, aos passos
de teu semblante amançador
peno
ausência tua por mínimos instantes
peno
olhos teus regados em lágrimas barrentas
peno
ao sorrir só
ao dormir, se dormir
peno por de ti distar
por amar-te mais que a mim mesmo
apenas amar-te
como agarrado em grilhões
abre-se a porta, as portas
não saio
peno por ficar
portas são sinais de liberdade
fecho-as, energeticamente
fecharei portas até penar em tua paz
até burlar leis torpes
e morar no azul de teus olhos negros
na vivacidade de tua pele branca
no amor, no penar
sofrerei, se sofrer for preciso
te amarei, pois de você preciso

quinta-feira, 1 de abril de 2010

carnívoro

a carne é crua
é dura
é nua
a carne é sua
a carne escassa
exata
escassa
a carne é sua
e de tão sua
soa amante
breu adentro
manobrada por mãos minhas
a carne
o seio
a nua
a carne nua de um seio exposto

sexta-feira, 5 de março de 2010

mudados

do alto de seus largos passos
roboticamente incorretos
o homem se inclina à moça
cavalheirismo: nada constante

do alto de seus grandes saltos
impossivelmente agudos
a moça se inclina ao homem
sua ousadia é radiante

no alto dos passos dele
os saltos dela se encaixam
homem e moça inclinados
a um amor bem delirante